Eu... não quero ser feminista
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Luanda, aos 13 de Agosto de 2023
Na contracorrente de grande parte das vozes que se ouve hoje, vai se tornando possível vislumbrar o crescimento de um pensamento que chamaremos de “não feminista”. Não me sinto em condições de afirmar que isto se esteja a passar apenas no meio cristão. Talvez seja o grito de várias mulheres, de origem e criação diversas, que, após a contemplação dos ideais que entendem como feministas, verbalizam: “não sou feminista”.
Daí, sublinharemos o “não devo nada ao feminismo”, ouviremos talvez coisas como “pensamento anti-feminista” e em círculos cristãos talvez ouçamos o termo “feminilidade bíblica”.
A questão é que muitas de nós, embora sinceras e –parece-me – bem intencionadas, estamos, na verdade, demarcando-nos de algo não entendido e – por consequência - autodenominando-nos como algo não definido. Temos uma visão caricata das feministas e visão alguma sobre o que é o feminismo. Achamos que para que seja uma feminista, uma mulher tem de falar com firmeza, talvez de forma dura, ser assumidamente a favor do aborto, preferir trabalhar a ter marido, gostar muito de estudar… Mas não é isto que está em causa.
Se, por um lado, o feminismo – especialmente hoje – não é um inofensivo movimento pela defesa dos direitos das mulheres, por outro, não pode ser definido de forma rasa pelos estereótipos do senso comum. É preciso entender aquilo que criticamos para que o critiquemos. Não se pode discordar do feminismo sem que saibamos do que isto se trata. E… sem que tenhamos feito tal exercício, como podemos afirmar que não somos aquilo que criticamos ou repelimos?
O feminismo é um movimento social direcionado à luta pelo reconhecimento e defesa dos direitos das mulheres. Trata-se de uma realidade complexa, pois aquilo a que chamamos de "feminismo", na verdade, engloba as ideias de diversos pensadores, de diversos momentos históricos e em diversos pontos geográficos.
Historicamente, é possível assinalar alguns marcos do movimento; momentos em que ideias específicas foram defendidas e debatidas no seio do mesmo. São as chamadas “ondas” do movimento. Até ao momento é possível falar de pelo menos quatro ondas do movimento feminista: a primeira, ocorrida no final do século XIX, a segunda, situada na década de 1960, a terceira, com início na década de 1980 e a alegada quarta (e actual) onda, iniciada em 2010.
As ondas diferenciam-se pelo momento histórico e pelas pautas defendidas. Os autores, activistas e pessoas de algum destaque referente ao movimento diferenciam-se pelo seu respectivo entendimento. As ideias, por si e pelos seus desdobramentos, consequências…
Posto isto, penso que a complexidade seja notória… mas eu, tal como muitas das moças a que me refiro acima, realmente afirmo: eu não quero ser feminista!
Acontece que, subjacente ao que já li e ouvi sobre o feminismo entendo estar duas ideias centrais: (1) a de que as mulheres não são tratadas, consideradas ou respeitadas como deveriam e (2) a de que os homens são os causadores ou os perpetuadores desta realidade – o que muitas vezes evolui para o pensamento “os homens são um/o problema”.
Com a primeira afirmação, sou obrigada a concordar. Não posso negar o que vejo. Há mulheres sendo assediadas nos seus locais de trabalho (isto quando já não é esta a condição de entrada), há mulheres sendo abandonadas pelos seus parceiros com filhos por criar, há mulheres sendo abusadas das mais diversas maneiras, há mulheres cujas habilidades são simplesmente desconsideradas por serem mulheres. Há mulheres a quem não se dá voz e há mulheres vivendo coisas que nem conseguimos imaginar… isto é um facto. Muitas destas coisas ocorrem sem que as vítimas, as mulheres, tenham contribuído para tal. Muitas delas nascem, crescem e deparam-se com este estado das coisas, com um cenário no qual ela é desvalorizada.
Tudo isto é real.
A realidade é a realidade, mas não posso concordar com a segunda premissa.
É claro que muitos homens são problemáticos. Muitos deles
são terríveis! Há comportamentos de abuso masculino que a minha mente não
consegue realmente entender… Coisas inadmissíveis! Contudo, ainda assim, não
posso concordar que os homens sejam o problema. Se fossem, bastava retirar-se o
homem da equação e todos os problemas das mulheres estariam resolvidos. E não é isto o que se constata.
Por outro lado… nem todos os homens são problemáticos! Chega a ser perturbador ver mulheres reagindo a todos os homens do mundo, reais ou hipotéticos, da mesma forma – reagindo e prevenindo a agressão de homens que não a agrediram. Entendo o posicionamento (ainda mais face à realidade da primeira premissa), mas não posso também deixar de constatar que nem todos os homens são iguais.
Se há homens com os quais a equação funciona e se ao retirar todos a equação não se resolve, o cerne da questão, o câncer, o problema… não pode estar nos homens!
Para umas, a solução passará pela exclusão total dos homens. Para outras, a resposta estará na reeducação dos mesmos - na modificação da mentalidade, do comportamento e do entendimento sobre o "masculino". O feminismo, com base nas suas premissas, proporá soluções humanas (elaborada por seres humanos) para os problemas das mulheres e é por isto que eu não quero ser uma feminista: porque não concordo com a segunda premissa e porque sei que a solução para tais problemas não é humana.
O problema das mulheres não são os homens e a solução para o mesmo não está em livrar-se deles (seja eliminando-os ou reformando-os). O problema das mulheres (e do mundo!) é o pecado e a solução para as mulheres, para os seus problemas e para o mundo é Jesus Cristo.
Quanto ao pecado, não me refiro a sua vertente individual, aos pecados cometidos por cada ser humano. Refiro-me a esta força mais forte do que a gravidade, sob a qual toda a criação se encontra. Com o pecado cometido por Adão e Eva no Jardim, esta força foi introduzida no mundo e toda a criação passou a estar sujeita à mesma. O pecado é o que gera esta nossa inclinação a fazer o aquilo que é mau e não o que é bom. Cada um faz o mal a sua maneira e o pecado potencializa a versão corrompida de nossos aspectos característicos. A cada ser humano cabe amar o próximo, mas a versão corrompida da humanidade não tem isto como prioridade. Homem e mulher deveriam corresponder-se. Ao homem, dentre outras coisas, cabe proteger e responsabilizar-se pela mulher. A sua versão corrompida pelo pecado não faz isto. Trata-se de uma versão corrompida daquilo que foi feito para ser perfeito.
Somente pessoas transformadas e redimidas por Jesus Cristo são capazes de desafiar esta força destruidora tão potente denominada pecado. Somente pessoas que já tenham vivido a experiência única de nascer de novo (João 3:1-21) podem vencer o pecado. Estas pessoas recebem outra natureza (além da primeira natureza, corrompida pelo pecado): a natureza de Deus. Estas pessoas passam a ser novas criaturas. Estas pessoas passam a ser filhas de Deus. Estas pessoas, sim, podem ser homens e mulheres como foram feitos para ser.
Só homens assim (que nasceram de novo pelo conhecimento pessoal de Jesus Cristo) podem ser capazes de respeitar as mulheres à sua volta! O mesmo vale para as mulheres (que, apesar de não se dizer… também precisam de redenção em Cristo!).
Não é o feminismo a solução de que precisamos. Ao fim de uma caminhada de esperança revolucionária, vamos frustrar-nos ao ver que nem o feminismo e nem outro movimento ou ideologia foi capaz de resolver o problema central: o câncer do pecado sob o qual a criação vive.
Eu não quero ser feminista e, isto, não porque não quero falar com firmeza, talvez de forma dura, não por não ser a favor do aborto, não por não preferir trabalhar a ter família, gostar muito de estudar… Mas porque sei que seja qual for o problema -este ou outro -, a solução é Jesus Cristo.
Esta é a solução para os homens, para as mulheres, para a humanidade e para o resto da criação: Jesus Cristo!
De uma redimida.
Caliana :)
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