A morte - e o seus efeitos nos vivos

Em Angola, temos uma alta taxa de natalidade. Entretanto temos uma taxa de mortalidade que não se pode ignorar também. Com alguma frequência, chegam-nos notícias de mortes. Mortes de entes queridos ou de pessoas próximas... E quando não é assim, várias são as vezes em que se poderá passar por alguma rua pela cidade de Luanda e deparar-se com um aglomerado de gente em frente à alguma casa e à porta da mesma uma fotografia do ente querido perdido. 

Em Angola, não há só mortes, mas creio que por cá qualquer cidadão é mais confrontado com notícias do género do que boa parte da população europeia, por exemplo. São vários os factores que contribuem para isto, mas não é este o foco deste texto. 

Verdade é que a proximidade da morte evidencia a fragilidade da nossa vida - da nossa vida aqui na terra. É o momento em que os vivos se apercebem do quão fácil é morrer. 

O livro bíblico de Eclesiastes diz no seu capítulo 7, versículos 2 a 4, o seguinte: 

"2 É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer isso.

A proximidade da morte mostra-nos o quão real e inevitável esta é. Mostra-nos também como somos pequenos diante dela. 

A realidade da morte deveria trazer-nos outra reflexão: a de como temos levado a nossa vida. Se é certo que vamos morrer, que a vida irá acabar, como devemos vivê-la? Nós, os vivos, por vezes, afectados com alguma deficiência que nos impede de ver o que importa, conseguimos valorizar o trabalho que um dia nos trará a ideal vida melhor; valorizamos o dinheiro, que supostamente resolverá todos os nossos problemas; valorizamos as coisas, que, supostamente, nos farão ter um estatuto social melhor. Fazemos tudo isto - e por vezes muito mais -, mas não valorizamos as pessoas, nem os momentos passados com estas.

As pessoas são pessoas e, como pessoas, têm características de pessoas. Elas muitas vezes discordarão e - com a sua natureza caída - errarão. A questão é que nós, vezes várias, preferimos agarrarmo-nos às mágoas, às feridas, ao passado e ao orgulho e roubamos de nós mesmos a oportunidade de gozar a vida ao lado das pessoas que amamos, de pessoas interessantes, enfim, de pessoas. 

Talvez, inconscientemente, nós acreditemos que ainda teremos muito tempo! Talvez, sem nunca termos pensado sobre isto, pensemos que teremos oportunidade um dia de nos livrarmos das mágoas e dos muros que elas construíram. "Hoje, não. Um dia", diz a nossa mente bêbada do nosso orgulho. 

Mas se digo isto das mágoas, digo isto também sobre as vergonhas e as procrastinações. Digo isto também sobre a vida com Deus - conversão a Cristo ou aprofundamento da vida cristã - que deixamos para ter apenas quando formos velhos ou para quando não tivermos nada de melhor a fazer. Cabe na mesma lista, todos os passos que deixamos de dar por esquecer-mo-nos de que a vida acaba e de que não sabemos quando. 

Eu, Caliana, escrevo este texto após ter recebido uma notícia de óbito triste, inesperada e desoladora. Eu quero rever-me e convido-te a fazer isto também. 

Das palavras que não tens dito, do perdão que não tens liberado ou pedido, dos abraços que não tens dado, das mágoas que tens perpetuado, do negócio que ainda não abriste, do casamento que ainda não quiseste entrar, do filho que ainda não quiseste ter ou criar, dos relacionamentos que não tens iniciado, o que achas que ainda terás tempo de fazer?

 

De uma redimida. 


Caliana.

 

Comentários

  1. Amém!!!! A vida é um sopro quanto menos a gente espera lá a vida se foi 😔.. e deixamos de nos conectar com o mais importante “Deus”

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  2. A necessidade de saber o que se passa na vida dos outros no outro lado do mundo pelas redes sociais muitas vezes nos rouba a possibilidade de saber o que se passa na vida da pessoa que está aqui mesmo ao lado. E só nos damos conta disso quando a pessoa já não está entre nós. É o grande paradoxo do nosso tempo.

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